Experiência Completa - Gaiato 2023

Em 2023, a experiência completa da formação de educadores aconteceu no Gaiato, em Ubatuba-SP. Aqui relatamos a nossa vivência na formação.

Conheça o Gaiato:

Gaiato é uma organização da sociedade civíl localizada em Ubatuba, cidade litorânea do estado de Sào Paulo - Brasil, que atende crianças e jovens. Oferece diversas atividades artísticas, como dança, música, grafite, costura, circo, etc. Os educadores são principalmente voluntários, residentes da cidade.

Sede do Gaiato - Ubatuba/SP

Inicialmente, uma parceria foi estabelecida entre as duas organizações. Nosso gerente de projeto entrou em contato com um representante da Gaiato que desejava que o tema do bem-estar e segurança digital fosse abordado com seus educadores.

Aprendemos sobre o trabalho da Gaiato e os tópicos que eles desejavam apresentar. Além de privacidade, segurança, bem-estar digital e desinformação (tópicos abordados no Data Detox for Youth), o parceiro nos pediu para abordar cyberbullying e sexualidade na internet. Para possibilitar a inserção desses tópicos na formação, utilizamos materias open-source que a Casa hacker já havia desenvolvido com outros parceiros, como a Proteka por exemplo, e outras fontes interessantes que buscamos online.

Conhecendo a organização, o perfil dos educadores e as necessidades da comunidade, pudemos preparar a formação com personalição adequada ao contexto.

Workshop com os educadores

A formação presencial contou com um workshop de dois dias: trabalhando o kit "Data Detox for youth" e a exposição "What the future wants?", ambos produzidos pela Tactical Tech e traduzidos pela Casa hacker. Esse encontro aconteceu na sede do Gaiato, o que possibilitou uma compreensão ainda maior da organização parceira, de seu trabalho e de sua rotina.

Este momento de reunião com os educadores foi muito interessante, especialmente por que, em uma pesquisa inicial, vários participantes se identificaram como digitalmente iletrados, evidenciando que os educadores neste contexto não são muito adeptos ao uso rotineiro e intenso da tecnologia mas, ainda assim, mostraram grande preocupação e interesse pela vida online dos jovens.

Nesse cenário, a formação é ainda mais importante para os educadores. Como eles não veêm a tecnologia tão presente na rotina, acabam conhecendo menos sobre o mundo online, sobre segurança, privacidade e bem-estar digital, o processo de construir uma intervenção educativa para aplicar com os jovens (seja ela uma aula, uma dinâmica, ou qualquer outro modelo) se torna mais oneroso, exigindo muito mais pesquisa sobre o tema. A formação vem como uma ferramenta motivadora que auxilia nesse processo.

O workshop durou muito mais do que o previsto devido à intensidade da participação e à riqueza das discussões. Os educadores foram muito além dos aspectos técnicos e levantaram questões importantes como autoestima, distorção da imagem corporal e até mesmo depressão.

Após essa reunião, todos os educadores mostraram grande interesse e disposição para trabalhar esses conceitos com os jovens. No entanto, o contexto da organização não favorece a aplicação de atividades mais tradicionais como o kit Data Detox for Youth, por exemplo.

Os educadores começaram a se aprofundar no desenvolvimento de ideias de atividades para discutir o tema com os jovens, e o kit teve um papel fundamental na formação dos próprios educadores, ainda que não tenha sido diretamente aplicado aos jovens.

Mentoria e Suporte

Este processo consistiu em reuniões mensais para compartilhar as atividades desenvolvidas, propor discussões sobre novos tópicos e manter os educadores engajados no trabalho e na discussão do assunto.

As trocas foram muito ricas, e foi surpreendente como os educadores de arte conseguiram instigar discussões entre os jovens. Eles incluíram dinâmicas voltadas à reflexões sobre o uso de tecnologia e pensamento crítico em suas atividades habituais, levando os jovens a pensar sobre o assunto e alcançar conclusões interessantes de forma lúdica.

As reflexões que as crianças alcançaram foram profundas, jovens relataram algunsa traumas, ativamente mudaram de hábitos, melhoraram suas ferramentas de privacidade e segurança, e ficaram mais críticos e conscientes sobre sua atividade online.

Foi perceptível o quanto o processo de mentoria motivou e ajudou os educadores em suas práticas ligadas à tecnologia. Em todos os encontros, os relatos de experiência foram positivos e enriquecedores. Para a Casa hacker, que é uma organização focada em educação através do uso de tecnologia, os relatos dos educadores ligados às artes trouxe pontos de vista diferenciados, e mostrou a possibilidade de uso de novas ferramentas.

Encerramento

Neste caso, a organização realiza um evento anual de encerramento, que neste ano teve a tecnologia como tema. Ao longo do ano, eles estudaram e discutiram os temas do Data Detox for Youth, mesmo com diferentes abordagens. Essa discussão se traduziu em uma apresentação artística, que expressou os pontos discutidos pelos alunos em intervenções sobre o lixo tecnológico, uso desenfreado de mídias sociais e desconexão com o mundo real, pressão social exercida pelas redes (bem-estar digital), privacidade, entre outros.

Os resultados descritos pelos educadores foram impressionantes; o crescimento da alfabetização digital entre os jovens envolvidos no processo foi intenso e aconteceu organicamente. A discussão até mesmo envolveu e engajou as famílias.

Conclusão

Mesmo em contextos não tradicionais, a alfabetização digital pode ser envolvente e interessante para jovens. A formação de educadores é uma poderosa ferramenta para ajudar diversos educadores em contextos fora da tecnologia a abordar o tópico. E a troca também enriquece o trabalho de educadores ou formadores vinculados ao campo da tecnologia.

Essa conexão entre diferentes ambientes educacionais é uma poderosa ferramenta para escalar a alfabetização digital entre jovens.

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